Tem uma situação ou algumas situações em minha vida, que me inspiraram a escrever esse texto, compartilho aqui a fim de quebrar, ou fazer algumas rachaduras em meu perfeccionismo, pois sempre o temos em algum grau, seja conosco ou em relação aos demais.
Autocritica muito severa, procrastinação, são alguns dos eventos desencadeados pelo perfeccionismo. Enfim, eu sempre quis aprender a tocar violão, meu pai quando vivo, tocava e tentou me ensinar quando eu ainda era criança, mas eu creio que já naquela época não queria desapontar “os demais”, e nesse caso em especial, ao meu pai. Ficava envergonhada por não conseguir aprender a tocar corretamente, muitos anos se passaram, mas pensando a respeito e após aprender mais sobre mim mesma, percebo que parte de mim evitava a memória afetiva do som e do instrumento, outra parte, era medo. Medo de falhar, de ser criticada de não ser “perfeita” ao tocar, de não corresponder a expectativa que eu mesma criei a respeito.
Acabei abandonando essa ideia, sabe como é, temos a tendência de deixar de fazer o que não fazemos bem, já reparou? Com você também já aconteceu?
Faz quase 2 anos que tenho um violão, quantas vezes me arrisquei a tocá-lo? Raras vezes, minha autocritica seguia trabalhando intensamente dentro de mim, mesmo quando ninguém estava por perto para me “avaliar”, eu estava fazendo isso.
Como não acredito em acasos, lendo o livro da Brené Brown, “A coragem de ser IMPERFEITO”, aqui trago algumas reflexões que me fizeram revisitar essa meta abandonada em meu passado.
Aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem sou, me posicionar no lugar de ser imperfeita verdadeiramente, falhar, mas tentar e me dedicar, ser mais tolerante com meus erros, mais leveza, mais tolerância com meus resultados e grata com os pequenos progressos, para que maiores possam vir, me parece inteligente e muito mais humano.
Descobri muitas outras atitudes que replico esse comportamento, sem nem mesmo perceber, como conversar em inglês, tentar construir uma nova postura no yoga, dentre outras.
Entendi que o perfeccionismo é, então, um escudo de proteção. Todos nós temos em alguma medida, mas o esforço quando saudável é focado em nós mesmos e nos diz: “como eu posso melhorar”?
Já o perfeccionismo em si, é sobre conquistar aprovação e aceitação, focado nos outros e que nos diz: “o que os outros vão pensar”?
Baseado na sociedade do desempenho que vive nos dizendo seja sua melhor versão, sejam profissionais perfeitos, tenha uma aparência perfeita, relacionamentos perfeitos, uma vida perfeita, você já parou para pensar o quanto exige de você mesmo?
Percebi que isso não me faz bem, então compartilho algumas considerações da Brené.
Mas antes, algumas perguntas: o quanto você tem expectativas irreais sobre você mesmo? O quanto você tem necessidade de aprovação, medo de errar? O quanto tem dúvidas para tomar decisões ou para agir? O que tem limitado você?
Talvez, possa ser esse tão conhecido perfeccionismo e que muitos ainda acreditam ser uma qualidade. Mas, veja só o ele pode causar: imobilismo, ou paralisia. Tanta preocupação em fazer algo perfeito, que paralisamos.
E já que estou falando sobre mim e essa tal vulnerabilidade, vai aqui mais um exemplo, sempre quis usar minhas redes sociais para compartilhar temas que aprecio, que estudo, que fazem sentido para mim, deixar minhas reflexões, mas sempre tive medo do que as pessoas iriam falar, se iriam gostar, medo do julgamento dos outros e do meu próprio.
Procrastinar, adiar o que deve ou precisa ser feito, esperar, esperar, para colocar algo em prática, te impede de investir em novos projetos, de conquistar uma nova atividade no trabalho ou em aprender algo novo.
Então, será que ser imperfeito ou vulnerável é sinônimo de fraqueza?
Descontruir o perfeccionismo, requer muita coragem, a coragem para ser imperfeito, como o título desse livro que nos convida a pensar.
Poder dizer “eu não sei”, “preciso de ajuda”, “eu discordo”, “gostaria de conversar mais sobre isso”, “não deu certo, mas aprendi muito”. Sim, “eu fiz isso”, ou não, “não fiz isso”, é assim que eu me sinto, “aceito que fui o responsável por isso”, “quero tentar novamente”, “me desculpe”, “isso significa muito para mim”, “obrigada”. Parecem frases simples.
Para líderes, a vulnerabilidade geralmente é percebida e sentida como algo desconfortável.
No livro Tribos, “nós precisamos que você nos lidere”, Seth Godin escreve: é difícil encontrar liderança porque poucas pessoas estão dispostas a enfrentar o desconforto exigido para ser um líder. Essa escassez torna a liderança valiosa (…), é desconfortável se destacar perante estranhos, é desconfortável propor uma ideia que pode fracassar, é desconfortável desafiar o status quo, é desconfortável resistir ao desejo de se acomodar…
Os convido a ler esse trecho do livro, bem como, o “manifesto pela liderança com ousadia”.
Bem, como a mim, o que me faz sentir, faz sentido, penso que está na hora de reavaliar se me preocupo mais com os outros ou comigo mesma, começando pelas aulas de violão.
Me convido e te convido a viver e experimentar as incertezas e os riscos de nos tornarmos ainda mais humanos e por consequência, mais autênticos por meio desse “desarmamento” que é o perfeccionismo.
Grata por seu tempo em ler esse texto.
Edilaine Almeida | Sócia Diretora